Crónicas da viagem a Barca D'Alva

Espaço, silêncio, inspiração e tempo, muito tempo para divagar, meditar e descobrir as ideias e palavras certas...

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Eram 7:25 da manhã

... e o som incansável e agudo cortou o curto espaço que me separava do telemóvel.

Estava escrito, algures, que assim se passariam as coisas. Não me recordo do número de vezes que o som se repetiu, mas recordo sem dificuldade que o ritmo só poderia significar que - no limite do meu estado de consciência - algo tinha falhado e eu não tinha ouvido o 'outro toque do outro ritmo' muitos minutos antes, o alarme.


Do o outro lado a voz do Daniel,
"que se passa?",
"passa-se que estou atrasado", "passa-se que estou muito atrasado",
passava-se o que não se deveria passar, eu que tudo via a caminhar para trás e o comboio para a frente e o tempo que o empurrava e me puxava para trás, o dia que começava e que era encoberto por nuvens de um equacionar rápido de soluções, perguntas e respostas em que cresciam em número, as primeiras a ritmo superior.

Olhei para o relógio. Era muito improvável que o espaço-tempo - essa dupla de Einstein que só atrapalha a vida do comum dos viajantes - me permitisse chegar a tempo ao comboio. A lógica e o desespero gritavam desistir, planear talvez que o comboio seguinte, o seguinte com as perdas que a decisão envolvia... E foi quando olhei para o telemóvel para ligar e transmitir a ideia que reparei que, no canto superior direito do visor de cristais líquidos, algarismos variados apontavam uma realidade diferente da que eu conhecia até então naquela manhã. Aquela era uma realidade que envolvia mais uns minutos que a anterior, e eu comecei a questionar qual das duas realidades seria a real realidade.

O tempo segue no sentido da entropia do Universo. É curioso como dois relógios podem ser duas realidades, a do desistir e a do persistir, a do agonizar e a do tudo tentar, minutos a menos, minutos a mais. Eu optei pela realidade que abria novas portas.

Longe imaginava eu nesta altura o quão longe teria de ir e quão perto estava de ser bem sucedido.