Crónicas da viagem a Barca D'Alva

Espaço, silêncio, inspiração e tempo, muito tempo para divagar, meditar e descobrir as ideias e palavras certas...

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Capítulo 3



Rapidamente chegámos a Campanhã.
Ao telefone, o Daniel explica ao Gus que estamos parados e que vamos partir dentro de 3 minutos…
-“Talvez ainda consigas apanhar o comboio aqui em Campanha”.
Eu, faço algumas contas, para saber qual a próxima estação. Rapidamente, com a ajuda do João chegamos à conclusão que as melhores hipóteses, alternativas a Campanha são, Ermesinde e Penafiel.
Cheguei a pôr a hipótese de Livração. Nutro por esta estação um carinho especial. Foi lá que tirei uma das mais bonitas fotos e onde passei algumas horas a conversar com um maquinista. Aprendi nessa tarde muito sobre a ferrovia e tive a oportunidade de entrar numa das antigas automotoras da Linha do Tâmega.
Foram apenas três, as automotoras que vieram para aquela linha. Duas delas tiveram um acidente, tendo sido recuperada somente uma delas. Ficaram duas, que acabaram os seus dias paradas na linha de resguardo da estação de Livração. Nessa tarde visitei uma delas fotografando para a posteridade o seu interior velho e sujo de tanto pó que se acumulou ao longo dos tempos. Lembro-me também da primeira vez que fui lá de carro. Percorri, a sentimento, caminhos, curvas contra curva no meio do nada até, por fim, encontrar uma placa, daquelas placas tão típicas que existem em muitas localidades, a direr: “Estação C. F.”.
Seria muito difícil para o Gustavo encontrar esta estação, ainda por cima numa posição de desvantagem.
Entretanto o comboio parte e, o Gus do lado de fora da estação, vê a velha composição afastar-se da plataforma.
O ânimo é reduzido, mas o incentivo é grande e ele lança-se à estrada.
“Vai pela A4 rumo a Penafiel.”
Rapidamente, e a todo o gás, iniciamos a subida para Contumil. Ao cimo o antigo apeadeiro transformado num grande parque de material circulante aguarda a nossa passagem. Este serviço só pára nas estações, por isso passamos à velocidade que foi possível ganhar durante a subida.
Dentro da carruagem vamos tirando fotos. O meu tripé, provavelmente um dos investimentos mais irreflectidos que já alguma vez fiz, mostra para que serve e faz-me pensar que afinal, poderá não ter sido uma má opção. Numa sucessão de fotos e de risadas, aproximamo-nos de Ermesinde.
Será desta que o homem consegue entrar no comboio?
As piores previsões verificam-se e, mais uma vez, o Gustavo vê a composição afastar-se. Ao telefone o Gus apresenta-se muito desmotivado, mas, mais uma vez, soltam-se incentivos de todos os que a bordo da Sorefame, (apenas três pessoas) sentem que a sua presença nesta aventura é fundamental.
Elaboro muito rapidamente uma teoria bastante convincente. Várias vezes percorri esta linha e conheço razoavelmente bem a sua topografia. Avizinha-se um percurso com muitas subidas até à estação de Cête. Uma 1400 com seis Sorefames não atinge muito mais do que 40 Km/h em alguns troços. Com umas contas muito rápidas, tento fazer uma previsão do tempo que poderemos demorar até Cête. São 4, como já referi, as carruagens que a composição trás. A locomotiva, embora tenha ido recentemente à revisão, já não tem a força de outros tempos, pelo que terá alguma dificuldade no percurso.
Assim, joga tudo a favor do Gustavo!
Face aos incentivos o homem faz-se à estrada.
O raciocínio e a pressa da manhã, impediram-me de cumprir um dos rituais mais importantes do dia. Tomar café tornou-se um imperativo para que o dia corra bem e para que o discernimento seja maior.
Embora não seja uma especialidade por aí além, tornou-se também um hábito tomar café a bordo do comboio. Num InterCidades, num Pendular e, agora neste serviço cujo nome não consigo precisar.
O João acompanha-me nesta saga. São 2 carruagens apinhadas de pessoas que foram passar o Natal ao Porto, que nos separam da carruagem bar.
Durante o percurso notamos nas “caricaturas” que vão surgindo. Serão bons motivos para fotos.
O Daniel ficou a guardar os lugares e todo o equipamento da espedição.
Chegados à dita carruagem, o ritual está próximo e é com um grande cerimonial que tomo o dito da manhã.
Entre conversa e fotos chegamos a Paredes.
Sem reparar, e quando iniciávamos o regresso ao nosso lugar, eis que surge o Gustavo.
“Esperava-te só em Penafiel, bem vindo a bordo!”
Passamos sem grande assunto de relevo as estações de Penafiel e Cête.