Crónicas da viagem a Barca D'Alva

Espaço, silêncio, inspiração e tempo, muito tempo para divagar, meditar e descobrir as ideias e palavras certas...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Capítulo 5

Ao sair da Livração, percorre-se um curto percurso até chegarmos ao Marco de Canavezes. Apercebo-me que a ponte sobre o Tâmega já não tem a velocidade limite de 20Km/h. Concluo por isso, que as obras de beneficiação das fundações terminaram e a velha ponte de pedra apresenta-se com uma nova forma e com uns “sapatos” novos.
Embrenhado nestes pensamentos, sinto que o comboio já abranda, dando entrada na estação do Marco de Canavezes.
Esta estação é um local habitual para o cruzamento das composições. Como não chove desço da Sorefame à espera do comboio vindo do Douro. Poderá ser uma composição igual à que circulamos ou então será porventura uma UTD-0600. Esta composição, também ela fabricada na Sorefame em finais da década de 60 denomina-se por UTD, por ser a abreviatura de Unidade Tripla a Diesel. Mas nem sempre foi assim…
Originalmente foram concebidas como UDD’s, só mais tarde, na década de 80 viram a sua capacidade ser aumentada com a inserção de um compartimento central, não motorizado, semelhante a uma carruagem Sorefame.
Mas, a composição que apareceu não seria uma UTD, uma vez que a silhueta de um 1400 surgiu de entre os montes.
Já perto da plataforma reparo que a composição é constituída por carruagens Corrail. Estas carruagens, francesas, entraram ao serviço na CP na década de 80, fazendo desde então os comboios InterCidades.
Fontes dos caminhos-de-ferro, apontavam para a extinção deste serviço em meados de Outubro, pelo que foi com grande surpresa que pude fotografar, quem sabe pela última vez, este material nesta linha.
Esgotados os motivos de interesse dessa composição, voltei-me então para a que me transportava.
Reparei que de uma janela o Daniel apreciava e registava com a máquina fotográfica os meus movimentos. Como o tempo era escasso, dei rapidamente uns passos atrás para ter um ângulo favorável à objectiva da minha Canon.
Um, dois, três disparos e já a buzina afinada da 1411 soa avisando que está com pressa para chegar ao Pocinho.
Entro já com a composição em andamento…

O comboio acelera até à sua velocidade de “cruzeiro” e ao passar alguns montes surge do nosso lado direito o Rio Douro. Deste ponto até à ponte da Ferradosa a linha irá acompanhá-lo. Do outro lado veremos sobretudo monte e as estações.
Pressentindo que o dia poderá ser cansativo sentamo-nos a conversar. Entre teorias, fotos e uns filmes made in “Daniel’s cam” chegamos a Mosteirô. Por aqui as coisas estão muito diferentes do que vai sendo constatado no resto do país. A velha estação está a receber obras de reabilitação. Tudo está a ser alvo de uma intervenção. Apenas os típicos azuleijos com o nome da estação se mantêm a descoberto, para que nenhum passageiro mais distraído se esqueça de que chegou a Mosteiro.
A viagem prossegue até à próxima paragem, Ermida.
Nesta estação cruzamos com uma composição igual à nossa. Por esquecimento ou distracção devido à conversa animada, esqueço-me de ligar a máquina e apenas registo as imagens da última carruagem. A dita composição parte primeiro que nós e, ainda bem, a linha faz uma curva à esquerda permitindo que da janela se fotografe o comboio gémeo que se dirige para S. Bento.
Felizmente o Daniel, de certo mais atento do que eu, registou o cruzamento. Assim posso afirmar, com base nos registos fotográficos que em Ermida cruzámo-nos com uma composição que trazia a 1414 à cabeça.
Saindo de Ermida só falta um pequeno troço de … Km, que nos deixará no coração do Douro, na capital da região, onde as uvas se transformam em líquido. Nesse líquido que antepassados, com grande sabedoria, souberam “afinar”, transformando-o numa das maravilhas do país que se estende além fronteiras e que nós temos o dever de preservar. No estrangeiro, ao dizer que sou português, digo que sou do país onde é produzido o Vinho do Porto.

Chegamos à Régua…