Crónicas da viagem a Barca D'Alva

Espaço, silêncio, inspiração e tempo, muito tempo para divagar, meditar e descobrir as ideias e palavras certas...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Olha o rebucado da regua!!

Subito transportar a uma infancia inexistente: povoam a minha mente os rebucados da regua. Creio, todavia sem estar certo, que a minha avo Irene, que percorria a distancia que separava Mogadouro do Porto de comboio, oferecia a par do seu coracao, das suas maos prodigiosas na feitura das rosquilhas, rebucados da regua aos netos.

Existiam, em tempos, uma serie de livros de aventuras, intitulados "Viagens no tempo". Cada uma destas viagens pressupunha a existencia de um local com uma "brecha" no tempo. Estas senhoras que apregoam o acucar caramelizado na forma de rebucado, corporificam esta tenue ligacao que temos com o primeiro comboio a vapor que percorreu a linha do Douro. Ja nao ha carruagens de ferro, ou locomotivas que regurgitam nuvens de fumo preto, mas continuam a existir rebucados da Regua.

A verdadeira viagem, para mim, comeca mal saimos de S. Bento, perde-se em Campanha, retoma-se aqui. Existe enquanto acompanhamos lado-a-lado o curso sinuoso do rio que da nome, vida, espirito, caracter, ao que se diz serem "as gentes do Norte". Provincianas, rudes, diamantes em bruto. De olhar maduro, como o vinho que nasce nas encostas que cruzaremos de agora em diante.

Neste momento comeca o segundo canto desta grandiosa epopeia: o profundo vale do Alto Douro apresenta as suas portas.

Fotos até agora #2






Fotos até agora #1

Capítulo 5

Ao sair da Livração, percorre-se um curto percurso até chegarmos ao Marco de Canavezes. Apercebo-me que a ponte sobre o Tâmega já não tem a velocidade limite de 20Km/h. Concluo por isso, que as obras de beneficiação das fundações terminaram e a velha ponte de pedra apresenta-se com uma nova forma e com uns “sapatos” novos.
Embrenhado nestes pensamentos, sinto que o comboio já abranda, dando entrada na estação do Marco de Canavezes.
Esta estação é um local habitual para o cruzamento das composições. Como não chove desço da Sorefame à espera do comboio vindo do Douro. Poderá ser uma composição igual à que circulamos ou então será porventura uma UTD-0600. Esta composição, também ela fabricada na Sorefame em finais da década de 60 denomina-se por UTD, por ser a abreviatura de Unidade Tripla a Diesel. Mas nem sempre foi assim…
Originalmente foram concebidas como UDD’s, só mais tarde, na década de 80 viram a sua capacidade ser aumentada com a inserção de um compartimento central, não motorizado, semelhante a uma carruagem Sorefame.
Mas, a composição que apareceu não seria uma UTD, uma vez que a silhueta de um 1400 surgiu de entre os montes.
Já perto da plataforma reparo que a composição é constituída por carruagens Corrail. Estas carruagens, francesas, entraram ao serviço na CP na década de 80, fazendo desde então os comboios InterCidades.
Fontes dos caminhos-de-ferro, apontavam para a extinção deste serviço em meados de Outubro, pelo que foi com grande surpresa que pude fotografar, quem sabe pela última vez, este material nesta linha.
Esgotados os motivos de interesse dessa composição, voltei-me então para a que me transportava.
Reparei que de uma janela o Daniel apreciava e registava com a máquina fotográfica os meus movimentos. Como o tempo era escasso, dei rapidamente uns passos atrás para ter um ângulo favorável à objectiva da minha Canon.
Um, dois, três disparos e já a buzina afinada da 1411 soa avisando que está com pressa para chegar ao Pocinho.
Entro já com a composição em andamento…

O comboio acelera até à sua velocidade de “cruzeiro” e ao passar alguns montes surge do nosso lado direito o Rio Douro. Deste ponto até à ponte da Ferradosa a linha irá acompanhá-lo. Do outro lado veremos sobretudo monte e as estações.
Pressentindo que o dia poderá ser cansativo sentamo-nos a conversar. Entre teorias, fotos e uns filmes made in “Daniel’s cam” chegamos a Mosteirô. Por aqui as coisas estão muito diferentes do que vai sendo constatado no resto do país. A velha estação está a receber obras de reabilitação. Tudo está a ser alvo de uma intervenção. Apenas os típicos azuleijos com o nome da estação se mantêm a descoberto, para que nenhum passageiro mais distraído se esqueça de que chegou a Mosteiro.
A viagem prossegue até à próxima paragem, Ermida.
Nesta estação cruzamos com uma composição igual à nossa. Por esquecimento ou distracção devido à conversa animada, esqueço-me de ligar a máquina e apenas registo as imagens da última carruagem. A dita composição parte primeiro que nós e, ainda bem, a linha faz uma curva à esquerda permitindo que da janela se fotografe o comboio gémeo que se dirige para S. Bento.
Felizmente o Daniel, de certo mais atento do que eu, registou o cruzamento. Assim posso afirmar, com base nos registos fotográficos que em Ermida cruzámo-nos com uma composição que trazia a 1414 à cabeça.
Saindo de Ermida só falta um pequeno troço de … Km, que nos deixará no coração do Douro, na capital da região, onde as uvas se transformam em líquido. Nesse líquido que antepassados, com grande sabedoria, souberam “afinar”, transformando-o numa das maravilhas do país que se estende além fronteiras e que nós temos o dever de preservar. No estrangeiro, ao dizer que sou português, digo que sou do país onde é produzido o Vinho do Porto.

Chegamos à Régua…

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Capítulo 4



De Cête para a frente é sempre a descer até ao Rio Douro. A viagem, que até agora foi feita por entre prédios, fábricas e campos, vai ganhar novo interesse.
Não é por acaso que a Linha do Douro é uma das mais bonitas de Portugal. O traçado junto ao rio permite uma paisagem soberba de toda uma região que vive das vinhas, das amendoeiras.
Por entre vales apertados o Douro ganha vida, e história. Até as barragens, que para muitos vieram desfigurar a paisagem, são já uma parte integrante deste cenário.

(Descrever mais!!!)

Entramos no túnel…., a próxima estação é Livração. Sabendo disso preparo-me antecipadamente para mais umas fotos.
Numa das curvas, já fora do túnel, eis que um dos candeeiros se abre.
Nunca tal coisa tinha acontecido.
Com as paragens, outras pessoas “alojaram-se” nesta carruagem ficando admiradas com o aparato montado por quatro jovens rumo ao fim da linha.
Foi mesmo sobre algumas destas pessoas que o candeeiro cedeu.
Prontamente seguimos para reparar a situação. Como se pode imaginar, este acontecimento foi mais um motivo de interesse, digno da nossa aventura, perfeitamente contextualizado, embora tenha sido uma obra do acaso. Ou, talvez não!...
O mecanismo de fixação do candeeiro exige duas pessoas, assim eu e o Gustavo, em cima dos bancos, tentamos superar a situação. Enquanto isso o Daniel e o João tiram fotografias, (fica para eles os comentários sobre esse assunto).
Do lado do Gustavo as coisas não estão famosas e eu mudo de sítio para o ajudar.
A situação fica mais ou menos remediada, mesmo a tempo da paragem em Livração.